sábado, 26 de setembro de 2009

Seus olhos nos meus

Eu poderia viver abrindo estradas por entre corações, tatuando borboletas amarelas.
Assim, abrindo lacunas por entre
os vazios, colorindo versos sobre
telhas redondas e um escapismo irreversível.
Achando tons num violão desafinado pelo tempo que ficou só.
Como uma pedra
no deserto. Como um eixo inexato.
Como o silêncio da noite sobre a luz da lua.
Sua sombra preenche a saudade, como o escuro toma conta do claro,
e o
vazio nada inócuo que sinto, numa tempestade de olhares.
Mas o vazio não é apenas a
falta, é a saudade de um sorriso contra-pondo com o toque,
vestido de sentimentos,
é costurar lembranças por entre abraços,
alargando esquinas e tecendo amores - é apenas seus olhos nos meus.



Raíssa Noronha

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Sobre o desabafo




O ruim de coisas profundas
é que elas são tiradas tão de dentro,
que quando realmente saem, gritam socorro em forma de versos.

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Porque ninguém jamais entendeu
o signficado de um silêncio.
de uma lágrima. ninguém te encherga por dentro.


.

Se eu gritar, simplesmente saia de perto,
não quero vitimas em meus tremores


.

Liberar algumas lágrimas para colher alguns sol-risos

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Raíssa Noronha

domingo, 6 de setembro de 2009

Uma carta


"Difícil ir construindo um novo começo a partir de cacos jogados. Novamente entre as quatro paredes de meu quarto, estão jogadas várias cartas de um passado recente. São pequenas lembranças, ou apenas aquele toque pra relembrar de algo que marcou. É como se colocássemos um objeto importante numa caixinha, e 10 anos depois abríssemos, e com algo tão pequeno lembraríamos-nos de anos de acontecimentos e reviveríamos momentaneamente sentimentos passados. Vi ali chamando atenção uma menorzinha, tão frágil, pequena e cheia de carinho, uma carta escrita num papel de caderno, com adesivo carinhoso, é, tudo indicava um amor ali. Não tinha assinatura por fora. Mas nem precisa, lembrava de cada carta, cada presente que ganhei.

-- Eu tinha razão, essa carta é uma das marcantes, foi como uma tatuagem feita de sussurros, gravada em minha memória para que jamais esqueça daquilo já vivido. Nunca me esqueci de cada palavra, cada vírgula, cada entonação nela escrita.

É como se me dessem uma injeção de adrenalina e meu coração acelerasse, e na cabeça de uma futura psicóloga, volta a sondar a intensidade do emocional, não queria ser controlada por emoções. Já era tarde pois meu coração já estava a mais de mil. Segurando um sorriso que ainda não inventaram palavra que o descreva, aquele tal sorriso de quando lemos algo que nos lembra coisas boas, nos tira as melhores lembranças e nos regam de saudade, e nessa saudade florescemos, às vezes lágrimas nos fogem, mas creio eu, essas podem sair.

Levantei-me devagar da cama, fui em direção a cozinha, precisava de um copo d’água, às vezes, quase todas elas, lembranças são tão pesadas, e fixas que ficam conosco pela eternidade. Nesse dia tão quente, minha sede parece insaciável, bebo mais um copo. Volto pro meu mundo. Ao lado da cama meu livro de cabeceira: Flores de dentro(Marla de Queiroz), e ao lado uma foto, eu bem que queria que fosse uma foto dela, mas hoje não faria sentido. Tinha ali a foto de um dos momentos mais marcantes entre esses 18 anos de vida, que fala mais que mil cartas, e nela escrevi uma frase com caneta preta: “Saudade é a maior prova de que o passado valeu à pena” juro que não lembro aonde li, de quem é, mas nunca me saiu da cabeça. Ao mesmo tempo lembrava de um conto que li a algumas horas atrás, dizia assim: “Não se pode viver para sempre com determinadas fotografias, mesmo que estas sejam muito bonitas, nunca deixarão de ser pedaços de papel do passado.( Rosangela Aliberti). Não sei bem se concordo, não devemos viver de passado, mas ele faz parte, e lembrar de coisas boas porem passadas também é bom, lembrar de experiências, vivencias e tudo que passamos, tudo que aconteceu no passado eu digo que é como se fossem tijolos, você usa pra construir um futuro mais forte, melhor. Voltei a abrir as cartas, cada riso solto. Mas essa pequena carta... carta é a forma tímida de gritar algo que não consegue. Na maioria das vezes é sincera, quem perderia tempo escrevendo algo de uma forma antiga, tradicional, romântica, para mentir?! Não faz sentido, mas ainda acalmando meu coração ainda acelerado, analiso a letra, tão pequena, tão linda e redonda. De quem é? Do inesperado, quando alguém é tão igual, ao mesmo tempo tão diferente, é tão oposto, mas parece tão perfeito, tão lindo, mas tão exagerado, realmente aquilo que chega assim do nada, invade tudo, sem nenhuma explicação, e te faz perder os sentidos e se perder num negócio chamado: sentimento, ou melhor, AMOR. Sim achei aqui uma cartinha da primeira pessoa que amei de verdade, seila, meu primeiro amor foi aos 17, lembro do turbilhão que estava minha cabeça. Era mais fácil tal envolvimento com apenas um simples carinho, mas ao sentir realmente o poder dessa palavra tão nobre, foi difícil não ficar com medo, algumas horas me afastei, outras arrisquei, como todo mundo, sofri. Difícil depois de um tempo reencontrar, e sentir a vontade de sentir aquilo tudo outra vez, e se abalar, novamente, tão diferente, mas tão igual, tão oposto mas tão...tão perfeito. Ela é assim. É a saudade que carregou tudo junto, tanto amor, tanta falta...Misturada."


Raíssa Noronha